O Verão passado, enquanto o jornal espanhol El Pais mostrava fotografias de leitos secos dos rios, o Guardian, na Inglaterra, mostrava notícias sobre cheias. Enquanto o governo local em Barcelona fazia planos para importar água através de navios, o governo britânico avaliava as suas barreiras contra as cheias.
Segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA), existem muitas causas, mas a previsão é de que as alterações climáticas aumentem tanto a frequência como a gravidade destes eventos. Mesmo que se reduzam as emissões, a concentração histórica dos gases com efeito de estufa resultará em alterações climáticas – logo, haverá impactos. É importante racionalizar recursos hídricos.
Portanto, precisamos de nos adaptar – isto significa avaliar a nossa vulnerabilidade e actuar para diminuirmos os riscos. Esta análise da adaptação às alterações climáticas dirige a atenção para as questões relacionadas com a água, principalmente as secas.
À medida que as temperaturas sobem as reservas de água do Sul da Europa diminuem. Ao mesmo tempo, a agricultura e o turismo irão requerer mais água principalmente nas regiões mais quentes e secas.
Um aumento na temperatura da água e uma diminuição do fluxo dos rios no sul irão também afectar a qualidade da água. O aumento das épocas de chuva e as cheias relâmpago irão aumentar o risco de poluição através das inundações devido às tempestades e às descargas de emergência das estações de tratamento de água.
Na Primavera de 2008, os níveis de água nas reservas em Barcelona eram tão baixos que foram feitos planos para o abastecimento da região. Foi calculado um custo estimado de 22 milhões de euros e seis carregamentos, cada um com água fresca suficiente para encher dez piscinas olímpicas.
Falta de recursos levam a medidas de emergência
Estava previsto que viesse de Tarragona no sul da Catalunha, Marselha e Almeria - uma das áreas mais secas do sul de Espanha. Felizmente, o mês de Maio foi chuvoso, as reservas encheram-se o suficiente e os planos foram arquivados. Contudo, continuam as discussões sobre o desvio de água dos rios como o Ebro e até o Rhône na França.
Seca catastrófica
O Chipre está a sofrer uma seca catastrófica. A procura de água tem vindo a aumentar nos últimos dezassete anos e é superior a 100 milhões de metros cúbicos (m3) por ano. Durante os últimos três anos apenas 24, 39 e 19 milhões de m3 respectivamente, foram disponibilizados.
Para minorar a crise, foi enviada água, no Verão passado, da Grécia. Em Setembro de 2008, vinte e nove navios chegaram, mas a falta neste país abrandou os carregamentos. O governo cipriota foi forçado a aplicar medidas de emergência que incluíram o corte de 30 por cento do fornecimento.
Na Turquia, os níveis caíram consideravelmente no Verão passado, de acordo com a autoridade estatal de distribuição de água. As reservas que a forneciam potável a Istambul continham 28 por cento da sua capacidade. As reservas que forneciam Ancara, com 4 milhões de pessoas, continham apenas um por cento de água potável.
Um relatório do Gabinete das Águas de Creta deu uma imagem alarmante de reservas subterrâneas de água na ilha. Os aquíferos – reservas subterrâneas – desceram aproximadamente 15 m desde 2005, devido ao bombeamento em excesso. O mar começou a avançar, poluindo as restantes reservas.
Redução e adaptação
Os gases com efeito de estufa estão a causar alterações climáticas. Espera-se que o Sul da Europa se torne mais quente e mais seco enquanto o noroeste se torna provavelmente mais temperado e húmido. No geral, as temperaturas globais irão continuar a subir.
Os Estados-membros da UE acordaram que os aumentos globais da temperatura devem ser limitados a 2°C acima dos níveis pré-industriais para evitar alterações graves do nosso clima.
Este é o objectivo principal da UE para os esforços de redução. Estes esforços estão focados no corte de emissões de gases com efeito de "estufa". Limitar o aumento das temperaturas para dois graus exige uma redução de 50 por cento nas emissões globais de gases até 2050.
Contudo, mesmo se as emissões parassem hoje, as alterações climáticas iriam continuar por muito tempo devido à concentração histórica dos gases com efeito de estufa na atmosfera. Os impactes são claramente visíveis no Árctico, por exemplo. Devemos começar a adaptar-nos. A adaptação significa avaliar e lidar com a vulnerabilidade dos sistemas humanos e naturais.
Os glaciares estão a derreter
A redução das alterações climáticas e a nossa adaptação estão muito ligadas. Quanto mais sucesso tiverem os esforços de redução de emissões, menor será a nossa necessidade de adaptação.
Controlo da crise
As secas actuais e a crise da água devem ser tratadas a curto prazo para assegurar água às pessoas. Contudo, também devem ser desenvolvidas políticas de adaptação a longo prazo.
Os governos a nível local e nacional, desesperados para reforçar as reservas de água, estão a investir em projectos tais como reservatórios para armazenar água, transferência de água e planos de dessalinização, que tornam a água salgada apropriada para beber.
Os países mediterrânicos estão a confiar cada vez mais na dessalinização para fornecer água fresca. Actualmente, a Espanha tem 700 tanques de tratamento que fornecem água suficiente a oito milhões de pessoas diariamente. Espera-se que a dessalinização duplique nos próximos 50 anos em Espanha.
No Norte da Europa, o Reino Unido está também a construir o seu primeiro tanque de dessalinização a leste de Londres. Com um custo de 200 milhões de libras esterlinas, mais do que 250 milhões de euros, as instalações podem fornecer 140 milhões de litros por dia, o suficiente para fornecer 400 mil casas.
Ironicamente, as autoridades locais da água que estão a construir a instalação perdem muitos milhões de litros de água potável todos os dias, através de canos com fugas e infra-estruturas deficientes.
No entanto, o problema da dessalinização é um processo que consome notoriamente muita energia. Algumas instalações usam energia solar, o que é um passo positivo, mas ainda é dispendiosa. Também a salmoura, um subproduto de elminação difícil, pode prejudicar o ambiente.
Controlar recursos
"No Verão a temperatura aqui costuma ascender aos 40º C e a humidade também é alta", diz Barış, natural de Istambul. "As autoridades locais podem actualmente avisar-nos muito melhor e normalmente podem informar-nos durante quanto tempo a água estará desligada. Assim podemos fazer planos. Não parecem estar a realizar os esforços necessários para gerir a falta de água. Não podem fazer chover mais, suponho", afirma.
As autoridades regionais e nacionais na Turquia e por toda a Europa podem "controlar" melhor os recursos de água. Isto quer dizer, tomar medidas para reduzir e controlar o consumo, em vez de tentar simplesmente aumentar as reservas de água.
A Directiva Quadro da Água (DQA), o principal instrumento que define a legislação em matéria de água na Europa, obriga os Estados-membros a cobrar serviços como ferramenta efectiva para promover a conservação do precioso líquido.
Na verdade, é um dos métodos mais eficazes de influenciar padrões de consumo. Este controlo efectivo deve incluir também esforços na redução de perdas e na informação sobre a eficiência de uso.
Mais informação
O Índice de Exploração de Água (WEI) é um bom exemplo do tipo de informação necessária para uma visão geral da escala e localização dos problemas que enfrentamos.
Em termos mais simples, o índice mostra os recursos disponíveis num país ou região comparado com a quantidade de água usada. Um índice de mais de 20 por cento normalmente indica escassez. Nove países estão em "stress hídrico": Bélgica, Bulgária, Chipre, Alemanha, Itália, Antiga República Jugoslava da Macedónia, República da Macedónia, Malta, Espanha e Reino Unido (Inglaterra e Gales).
Um próximo relatório da AEA considera os Alpes, muitas vezes descrito como "a torre de água da Europa" devido a 40 por cento deste líquido potável vir da cordilheira de montanhas. A região Alpina experimentou aumentos de temperatura de 1,48º C nos últimos cem anos – o dobro da média global. Diz o relatório que os glaciares estão a derreter, o limite da neve está a subir e a cordilheira de montanhas está a mudar gradualmente, alterando a forma de acumular e armazenar água no Inverno para a distribuir de novo nos meses mais quentes.
A integração da adaptação de políticas chave da UE tem sido limitada. Contudo, espera-se que a Comissão Europeia publique um trabalho sobre a adaptação em 2009.
Um relatório da AEA recente aponta que até, agora só sete dos trinta e dois países adoptaram as Estratégias de Adaptação Nacional para as alterações climáticas. Mas, todos os Estados-membros estão ocupados a preparar, a desenvolver e a implementar medidas nacionais baseadas nas situações observadas em cada país.
27 de abril de 2009
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