20 de abril de 2009

Cientistas prevêem a possibilidade da Dengue voltar a Portugal Continental



A Dengue é uma das principais doenças infecciosas mundiais, que tem vindo a propagar-se para além das regiões tropicais e subtropicais, devido ao aquecimento global motivado pelas alterações climáticas.



O mosquito transmissor da Dengue já se encontra na Ilha da Madeira e a chegada a Portugal Continental poderá estar para breve. Que riscos corremos? A situação é estudada no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que para além da consulta aos viajantes mantém investigação sobre o vírus e o mosquito transmissor.

São mosquitos. Mosquitos que podem transmitir a Dengue. Uma doença infecciosa causada por um arbovírus, ou seja uma doença viral que na situação mais grave é hemorrágica podendo conduzir à morte.

O vírus é transmitido aos humanos por mosquitos Aedes aegypti ou Aedes albopictus, quando estes estão infectados com o vírus.

Assim, para haver transmissão da Dengue é necessário haver o vírus e o mosquito vector.

Mosquito que tem o habitat nas regiões quentes e húmidas.

Com a mobilidade de pessoas de regiões tropicais e subtropicais, onde a Dengue é endémica para Portugal a propagação da doença apenas está dependente da chegada do mosquito vector.

Sabe-se que o mosquito Aedes aegypti terá já chegado à Ilha da Madeira e daí para Portugal Continental pode ser apenas mais um passo.

Um passo que preocupa o investigador entomologista António Grácio que no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, estuda a propagação da doença.

«Eu julgo que ele não está em Portugal continental por puro acaso, por sorte nossa, digamos. Quer por avião quer por barco ele pode chegar cá facilmente, assim aliás como chegou à Madeira. Pensa-se que ele pode ter vindo da Venezuela, pode ter vindo do Brasil, mas chegou e depois de estar introduzido vai ser um problema, vai ser uma luta muito grande. O ideal era conseguir-se que ele não fosse introduzido novamente em Portugal, reintroduzido, uma vez que já o tivemos até 1956. Mas eu julgo que não está cá por pura sorte», explica António Grácio, Investigador, Director de Entomologia, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

A partir de todo o mundo podem chegar vectores do vírus da Dengue, Mosquitos Aedes, que para além da dengue, podem transmitir doenças como a febre-amarela e a Chikungunya.

«O mosquito é o aedes albopictus que é conhecido pelo Tigre da Ásia, que nessa altura só existia na Ásia, que foi nos anos 70 introduzido na Albânia, seguidamente em Itália. Neste momento encontra-se espalhado por toda a Itália e depois foi um pouco por toda a Europa, como podemos ver no mapa que indica precisamente a distribuição. Neste momento só não se conhece a sua distribuição além dos países nórdicos, só não se conhece a sua distribuição em Portugal, não sabemos se já cá entrou, se não. Em Espanha, existe perto de Barcelona e 3 km a sul de Barcelona. Portanto, na nossa região continental, não sabemos se ele existe ou não, partimos da hipótese que ainda não foi, pelo menos, ainda não foi encontrado», explica António Grácio, Investigador, Director de Entomologia, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Os mosquitos aedes têm as melhores condições de habitats nas zonas tropicais, mas com as actuais alterações climáticas a Europa oferece já condições naturais: calor e humidade.

Locais com águas paradas são a casa para se multiplicarem e a partir daí viajarem para outras paragens.

O transporte principal são os pneus. Pneus é uma coisa terrível, porque no local de origem chove, ficam pequenas quantidades de água no interior do pneu, mesmo que essa água evapore os ovos colam-se às paredes dos pneus e depois quando vem para outro local, chove novamente, têm noção de que o ambiente está propicio à sua sobrevivência e desencadeia o ciclo, ovular, a pupa e depois o adulto. Além dos pneus, temos o bambu da sorte e pequenos contentores», refere António Grácio, Investigador, Director de Entomologia, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

São os mosquitos a viajar e as pessoas a viajar para locais onde o risco de infecção com a Dengue é uma realidade. É nos viajantes pouco informados que reside o maior perigo, considera Investigador Jorge Atouguia.

«O risco da entrada do vírus não é necessariamente do emigrante ou da pessoa que vem do Brasil. Primeiro, porque a pessoa que vem do Brasil, se for um adulto e vier de uma zona de Dengue, provavelmente já teve e, portanto, não apresenta risco absolutamente nenhum, porque aquilo que ele tem são anticorpos», explica Jorge Atouguia, Director da Unidade de Doenças Tropicais, Instituto de Higiene e Medicina Tropical e adianta «Portanto, só nessa fase dos 3 a 5 dias é que há risco e a maior parte das pessoas que está nessa fase não são nem pessoas que vêm do Brasil, de imigrantes, nem imigrantes da Venezuela, são os viajantes. São as pessoas que vão para várias zonas aonde existe Dengue, que não estão suficientemente informadas sobre esse risco».

E no caso de ser infectado com o vírus alguns sintomas começam a manifestar-se.

«As pessoas queixam-se de um grande cansaço e sobretudo de dores musculares, e de dores ou mialgias, aquelas dores até profundas nos ossos, era chamado o quebra ossos. Portanto, a pessoa sente uma dor intensa a nível dos ossos, quase como aquelas dores reumáticas também. Isto é mais-menos generalizado e, portanto, para além da febre, do mal-estar geral, há estas características ligadas sobretudo às dores, por vezes, extremamente intensas ao nível ósseo», refere Jorge Atouguia, Director da Unidade de Doenças Tropicais, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Hoje já existe um exame rápido e fiável - o Teste de Imunocromatografia para a Dengue. Através da centrifugação de uma amostra de sangue é obtido o soro que é colocado neste kit de teste, juntamente com um reagente que se vai ligar ao soro. Em apenas 15 a 20 minutos obtém-se o resultado que é indicado por linhas coloridas.

«A fazer alguma coisa do ponto de vista dos sintomas, a fazer paracetamol. É importante até dizer isto às pessoas que vão viajar para zonas de Dengue e que podem eventualmente tratar um quadro febril com aspirina porque o fazem por rotina e se for Dengue podem ter fenómenos, pode ser um daqueles casos em que podem ter algumas manifestações hemorrágicas numa primeira infecção», adianta Jorge Atouguia, Director da Unidade de Doenças Tropicais, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Investigadores do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e médicos do sistema nacional de saúde prepararam-se para eventual entrada de mosquitos vectores da Dengue em Portugal Continental, oriundos da ilha da Madeira ou do Sul da Europa.

«Para esta situação vai ser assinado um Protocolo em breve, julgo entre o Instituto e a Direcção-geral de Saúde. Ainda não foi assinado, julgo que já vieram os ofícios necessários para que se passe de facto à concretização», afirma António Grácio, Investigador, Director de Entomologia, Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Entretanto a Dengue não para, a doença está a evoluir para regiões antes livres de mosquitos vectores. Mas que agora as alterações climáticas deram-lhe mais território com calor e humidade. Portugal pode ser o próximo território destes mosquitos.

Encontrarão entretanto os cientistas armas capazes de travar os invasores?

Sem comentários: